sexta-feira, 11 de março de 2011

Tenho dito: Quando um convite para jantar não é só um convite para jantar

Um convite para jantar num domingo. E definitivamente, foi aí que tudo começou.

Os preparativos para o domingo.
Ingredientes:
Uma mulher de 30 e poucos anos negligenciada, abandonada e rejeitada.
Ume generosa dose de culpa.
Uma pitada de antegozo.
Um pacote inteiro de insegurança sobre a aparência do seu corpo.
Um raminho de excitação (selvagem, se possível).
Uma colher cheia de desespero profundo, condensado.
Um pequeno pânico de celulites.
Duas meias 7/8 pretas, com renda na barra.
Uma calcinha preta interessante.
Um sutiã preto, da espécie maravilhosa.
Uma garrafa de vinho tinto.
Um vestido.
Um par de sapatos.
Decoração:
Batom nude.
Várias camadas de rímel escuro.
Modo de preparar:
Deixar de lado as meias, calcinha, sutiã, para usar mais tarde.
Pegar a mulher.
Verificar seus olhos e sua pele para se certificar de que ela não passou do prazo de validade.
Acrescentar culpa, antegozo, insegurança, excitação, desespero e pânico.
Misturar tudo.
Deixar cozinhar alguns dias.
Num banheiro de tamanho médio, preparar a mulher, fazendo depilação e descolorindo seus pêlos, colorindo seus cabelos e pintando as suas unhas dos pés.
Cerca de uma hora antes de começar, despejar generosamente uma cara loção corporal, mexendo freqüentemente.
Acrescentar as meias, o par de calcinhas pretas interessantes e o sutiã preto maravilhoso. Praticar um pouco os atos de sedução, deixando cair seu cabelo sobre o rosto e lançando olhares através dos cílios.
Acrescentar uma dose de batom nude (ou vermelho-prostituta, se assim preferir), várias camadas de rímel preto, um vestido curto, todo abotoado, roxo (é, afinal, a cor da paixão), sapatos pretos com correias de camurça nos tornozelos e uma garrafa de vinho tinto.
Evitar começar a beber uns tragos da garrafa de vinho tinto antes de chegar ao seu destino.
Servir na cama, com um homem bonito.

Um pouco antes de sair de casa, minha melhor amiga decide gastar com uma ligação interurbana para dar algumas dicas sobre como colocar uma camisinha com os dentes e desejar boa sorte. Afinal, ela já estava preocupada com a minha recusa às novas oportunidades e à minha resistência ao cultivar um amor não correspondido.
- Ah, pára com isso, amiga, já estou nervosa demais!
- Ótimo – ela disse. – É muito melhor quando estamos nervosas.
Prometi telefonar para ela no dia seguinte e contar todos os detalhes picantes.
- Ou se eu chegar cedo o bastante esta noite, te ligo e conto tudo – prometi, ansiosa.
-Se chegar cedo o bastante esta noite para me contar tudo, não haverá nada para contar – ela disse.
- Ah – eu disse. Ela tinha razão. – Ouça, já vou – eu disse, aborrecida, e desliguei o telefone na cara dela, enquanto ela estava no meio de uma explicação sobre uma espécie de atividade sexual complicada que ela disse ter visto na TV. Fosse lá o que fosse, só poderia ser feita por uma mulher que tivesse uma flexibilidade muito maior que a minha.
Eu sabia fazer sexo, ora essa. Quanto ao assunto de excentricidades sexuais, tenho uma confissão a fazer.
Espere só e ouvirá.
Lá vai.
Gosto de papai-e-mamãe.
Pronto! Falei!
As pessoas me fazem sentir tão envergonhada de mim mesma por isto. Como se eu fosse terrivelmente tediosa e reprimida. Mas não sou. Honestamente.
Não estou dizendo que seja a única posição de que gosto. Mas, realmente, não faço objeção a ela.

Depois de dirigir meio avoadamente pela cidade a qual não estava mais acostumada, e me perder algumas vezes pelo caminho, estacionei o carro diante do prédio dele e, sentindo uma estonteante mistura de excitação e vergonha sórdida, caminhei até a porta da frente. Depois, lembrei-me que deixara a garrafa de vinho no carro e rapidamente corri de volta para pegá-la.
Não iria a parte alguma sem ela.
Coragem de bêbado. Ou de holandês, como dizem os ingleses.

O porteiro disse que eu era esperada e que não precisaria interfonar. Quando cheguei ao andar, ele abriu a porta quase imediatamente.
Ele fazia um bom serviço, aparentando estar tão excitado e nervoso com aquilo quanto eu. Nervosismo antes dos jogos amorosos? Mas, depois ele recobrou as forças.
- Olá – sorriu. – Você está linda.
- Olá – eu disse. Sorri para ele apesar do meu nervosismo.
Que maravilha, eu pensei, com forte emoção.
Eu sentia todo o perigo da minha sofisticada produção. Num encontro com um belo homem. Ah, meu Deus! Eu devia ter ficado em casa. Ver a novela não provoca essas terríveis suposições e dilemas.
Antes que eu pudesse arremessar-me em direção à porta, gaguejando que tudo fora um erro terrível, ele pôs seu braço em torno dos meus ombros e me guiou em direção a cozinha.
- Vou guardar sua bolsa – disse. – Tome uma bebida enquanto isso.
- Mas... Ah, está bem. Quero meio litro de vinho – disse eu, enquanto me sentava à mesa da cozinha.
Ele riu.
- Nervosa, querida? – perguntou ele, carinhoso, enquanto me servia uma taça.
Meu Deus, pensei alarmada, não me pergunte coisas nesse tom suave.
Eu já estava suficientemente assustada. Se ele começasse a se comportar como algum tipo de sedutor irresistível, eu cairia fora.
- Não estou nervosa! - explodi. – Estou aterrorizada, droga.
- Por quê? – ele perguntou com fingida surpresa. – Minha culinária não é tão ruim assim.
Atirei todo o conteúdo da minha taça de vinho garganta abaixo, antes de perceber o que fizera.
- Relaxe – ele disse, ansioso, aproximando-se para se sentar ao meu lado à mesa e segurar minha mão. –Não vou morder.
Ah, não, pensei, então definitivamente vou para casa.
- Vamos apenas comer alguma coisa e conversar um pouquinho – disse ele, gentilmente. – Não há nada com o que se preocupar.
- Está bem, então – eu disse, fazendo um valente esforço para relaxar. – A propósito, o que vamos comer?
- Queijo stilton feito em casa com sopa de uva moscatel, bife à bouguignonne com batatas dauphinois e minha própria receita de zabaglione, como sobremesa.
Não o imaginara como um cozinheiro requintado.
- Não – ele sorriu. – É brincadeira. Você terá espagueti à bolonhesa e terá sorte de eu saber fazer pelo menos isso.
- Entendo – ri.
Às pressas, servi-me de outra taça de vinho mas, desta vez, forcei-me a bebê-lo em pequenos goles
Ele serviu o jantar, e era óbvio que aquilo não era o tipo de coisa que costumava fazer. Parecia inteiramente deslocado ali em pé, junto ao fogão. Correndo da pia para o fogão e de volta para a pia, enquanto a massa fervia a ponto de transbordar e a salada visivelmente murchar. Cozinhar, ao contrário da maioria das outras coisas, não estava entre seus dons.
O que tornava tudo ainda mais tocante, pelo fato de ele ter se incomodado tanto por minha causa. Ele parecia tão inseguro, ao levar os pratos para a mesa e colocar o meu, cheio de reverência, à minha frente.
- Beba um pouco mais de vinho – disse, servindo-me outra taça.
- Está tentando me embriagar para se aproveitar de mim? – perguntei-lhe, tentando dar à minha voz um tom aborrecido.
- Estou tentando lhe embriagar para que não sinta o gosto da minha comida, se estiver horrível – ele riu.
Lamento informar que eu não consegui comer quase nada. Não que estivesse horrível ou algo parecido. Embora pudesse estar, mas eu realmente não seria capaz de contar a vocês. É que eu me sentia tão nervosa, e a atmosfera estava tão carregada de tensão e expectativa, que simplesmente empurrava a comida no prato de um lado para o outro.
-Você vai comer só isso? – ele perguntou, finalmente, olhando para o monte de comida no meu prato.
- Olha – disse eu constrangida -, desculpe. Está tudo ótimo, mas não consigo comer. Não sei o motivo. Realmente sinto muito – olhei-o com ar de súplica.
- Não se preocupe – disse ele, levando os pratos.
- Você nunca mais cozinhará para mim? – perguntei.
- Claro que sim – disse ele. – E, pelo amor de Deus, não fique com um ar tão infeliz.
- É apenas porque estou nervosa – disse-lhe eu. – Não é porque a comida estivesse horrível.
- Nervosa? – Ele veio para o meu lado da mesa e se sentou junto de mim. – Você não tem motivo algum para ficar nervosa.
- É mesmo? – perguntei, olhando-o bem nos olhos.
- Não – ele murmurou. – Você não tem motivo algum.
E, suave, muito suavemente, pôs seu braço em torno do meu ombro e sua mão em minha nuca.
Fechei os olhos.
Não posso acreditar que estou fazendo isso, pensei, enlouquecida, mas não vou parar.
Aspirei o cheiro de sua pele, enquanto seu rosto se aproximava. Esperei seu beijo.
E quando veio, foi lindo. Doce, gentil e firme. O tipo de beijo no qual a pessoa que beija é muito boa nisso, mas você não sente que ele aprendeu a beijar tão bem praticando com milhares de outras.
Ele parou de me beijar e olhei-o alarmada. Qual era o significado disso.
- Foi bom? – ele perguntou, tranqüilo.
- Bom? – arquejei. – Foi melhor do que bom.
Ele sorriu, levemente.
- Não, quero dizer, está certo beijar você? Sabe, não quero ultrapassar nenhuma fronteira.
- Está certo – disse-lhe eu.
- Sei que você está magoada com outra pessoa – ele disse.
- Mas você é meu amigo – disse eu. – Está certo.
-Quero ser mais do que seu amigo – ele continuou.
- Está certo, também – respondi.
- É verdade? – perguntou ele olhando-me em busca d e confirmação.
- Honestamente – disse-lhe eu.
Ah, meu Deus, eu não deixara para mim mesma muito espaço para manobra, naquele momento. Não que eu quisesse isso. Começara, então tinha de terminar.
Ele me beijou novamente e foi tão bom quanto da primeira vez. Depois , me afastou delicadamente.
- Meu Deus, você é tão bonita...
- Não sou, não – disse, um tanto constrangida.
- Ah, você é, sim.
- Não – eu disse – Ellen é bonita.
- Ouça – disse ele, sorrindo. – Acredite em mim quando eu digo que você é bonita.
- Sou?
- É.
Pequena pausa.
- Obrigada – ri. – Que pena que você seja tão horroroso.
Então, ele riu.
Não havia absolutamente nenhuma vaidade naquele homem. Talvez, quando se é tão bonito assim, não haja necessidade disso. A admiração dos outros lhe serve de espelho.
Ele tornou a me beijar.
E, sinceramente, foi maravilhoso.
Eu me sentia tão protegida quando estava com ele, em seus braços. Mas também sentia que cuidava dele. Que ele precisava de mim tanto quanto eu precisava dele.
- Estou tão contente de ter conhecido você – ele continuou. – Você é tão especial.
- Não sou – protestei. – Sou muito comum.
- Você é especial para mim.
- Mas, por quê?
- Ah, não sei – ele disse. Recostou-se em sua cadeira e me olhou. Porque você é interessante e tem opiniões sobre as coisas, e também é muito engraçada. Mas principalmente, por ser tão boa pessoa... Em suma, você é uma pessoa decente.
- Nem sempre – disse-lhe eu. – Quero dizer, você devia ter-me visto há alguns meses quando soube que ele iria embora. Parecia uma louca varrida.
Ele riu.
E eu fiquei aborrecida comigo mesma.
Ali estava eu, com um homem lindo me dizendo coisas lindas sobre mim, e eu tentava convencê-lo de que nenhuma delas era verdadeira.
Ele se inclinou em minha direção e me beijou de novo. Era simplesmente a felicidade. Eu queria entregar-me a ela. Estar com ele sem nenhuma culpa, preocupação ou constrangimento. Estar com ele parecia uma coisa tão certa.
Você está sob o impacto de uma rejeição, adverti-me severamente. E daí, respondi a mim mesma. Não é como se eu fosse casar com o sujeito. Não posso divertir-me um pouco? Bem, sim, acho que posso sim. Mas, ao mesmo tempo, não posso sair por aí dormindo com qualquer homem que me pedir para fazer isso. Bem, novamente não se tratava de qualquer homem. Este é um homem simpático e doce, que gosta de mim. Bem, pelo menos ele parece gostar de mim, e eu gosto dele.
Com um pequeno choque, percebi que, na verdade, gostava dele. Ou seja, não estou dizendo que o amava, nem nada parecido, porque isso não seria verdadeiro. Mas havia algo nele que me tocava. E eu não queria magoá-lo. Mas será que magoaria? Será que dormir com ele implicava um compromisso?
Ele sabia, na verdade, que eu amava outra pessoa. Eu nunca escondera isso e eu também tinha plena consciência dos meus sentimentos por essa outra pessoa. Talvez ele quisesse estar comigo porque sabia que eu, na verdade, tinha outra pessoa em minha vida, e isso o deixaria livre de uma prisão.
Ah, meu Deus! Quantos traumas! Momento de decisões...
Nesse momento, ele começou a se movimentar em direção à porta da cozinha, ainda segurando a minha mão.
Sentia-me tão liberada e libertina.
- Para onde vamos? – perguntei, fingindo inocência.
- Sair pela estrada, para tomar uma bebida – disse ele sorrindo ao ver a confusão no meu rosto. – Estou brincando, sua boba. Vamos para o andar de cima. – e sorriu novamente.
Então, subimos a escada, ele seguindo à frente, ainda segurando a minha mão. A cada passo que eu dava, convencia-me cada vez mais de que era a coisa certa a fazer.
Chegamos ao topo da escada e ele me puxou para seus braços e me beijou.
Foi maravilhoso. Apesar de não ser muito forte, ele era muito alto e me fazia sentir pequena, delicada e protegida. Eu sentia a pele macia das suas costas, através do seu suéter. Ele me fez dar a volta e me encaminhou para uma porta,
- Meu quarto – disse, olhando-me nos olhos.
-Ah... – eu disse, mal conseguindo falar, por causa da excitação e do nervosismo.
O quarto dele era simpático. Estava tão arrumado que eu soube, instantaneamente – não que em algum momento eu tivesse qualquer dúvida-, que ele meticulosamente planejara me levar para cama. Os quartos dos homens – na sua maioria – só são arrumados da primeira vez que dormimos com eles. Depois dessa primeira vez, o lugar vira imediatamente um inferno.
Ele facilitou minha passagem pelo caminho até a cama, beijando-me para eu não ter que caminhar até lá e me sentar nela com um aspecto de expectativa e constrangimento.
Não, ele mais ou menos me beijou e me guiou através do quarto e, bem, vocês sabem, simplesmente chegamos à cama e, lá estando, achamos que poderia ser uma boa idéia nos deitarmos, pois de outra forma, só nos restaria contorná-la.
Depois de algum tempo ele começou a desabotoar o meu vestido, e eu coloquei minhas mãos sob o seu suéter, em cima da pele nua do seu estômago e do seu peito.
Muito gentil e lentamente, ele desabotoou meu vestido até embaixo e começou a tirar as minhas roupas.
Era bom, mas estranho. Estranho, mas bom.
Fazia tempo que eu não ia para cama com alguém. Era engraçado que ele não fosse o outro. Não horrível, nem desagradável. Apenas como eu digo, um pouco engraçado.
Senti-me um pouco constrangida com o meu corpo e com o fato de ele vê-lo.
Ele não parava de dizer que eu era linda. Ele estava tão satisfeito por eu me encontrar ali e me acariciava, enchendo-me de abraços e beijos. Depois de algum tempo, relaxei por completo. Podem chamar-me de antiquada, se quiserem, mas não existe maior elemento de excitação, para mim, do que alguém dizer que sou bonita e de me fazer sentir bonita.
Pode guardar para si mesmo posições mirabolantes e difíceis reviravoltas com os quadris. Cinco minutos de palavras certas no meu ouvido funcionavam muito melhor para mim.
Depois de muitos beijos e de nos conhecermos melhor, se é assim que você gostaria de chamar a isso, tornou-se óbvio que a noite se encaminhava numa direção definida.
Ele se afastou de mim.
- Meu Deus - disse. – Você é uma feiticeira, você me deixa louco, você é linda.
Sentei-me um pouco na cama e olhei para ele, enquanto suas mãos passeavam pela minha barriga.
Estava tão satisfeita por não ter comido nada!
Ele era lindo. Um corpo tão bonito. Um rosto divino... E um sujeito tão bom! Que fizera eu para merecer isso?
Meus olhos viajam pelo seu peito, admirando seu abdômen retesado, mas desviei a vista, quando olhei um pouco mais para baixo. Como descrever o estado em que ele se encontrava, abaixo da cintura, sem ser bem explícita ou bem tímida? Não posso contar o que se passava abaixo da cintura dele, porque eu não consigo encontrar uma palavra que me deixe à vontade para descrever seu, bem, vocês sabem, seu... Como posso descrever-lhe o que eu não posso descrever, se não tenho uma palavra para descrevê-lo?
Quero dizer, a palavra correta, claro, é pênis... Mas soa tão clínico! Mas de que outra maneira posso chamá-lo? Sei que há algumas palavras, mas nenhuma parece apropriada. Que tal “pau”? Atualmente está muito na moda. Beeeem, não sei. Para mim soa um pouquinho funcional demais. Embora, novamente, por que não deveria soar?
E, pior ainda, há as situações em que o homem batiza seu membro com um nome. Você já passou por uma dessas? Sorriso afetado e obliquo do homem, seguido por ruídos de adulação.
- Acho que o Joãozinho está acordando – sorriso significativo e adulador. – Acho que Joãozinho quer sair e brincar de esconde-esconde.
Affffff!!!!!!
Bem, Joãozinho pode sai direto e procurar outra pessoa com quem brincar porque eu estou fora!
Bem, na ausência de uma denominação que goste, vou recorrer à linguagem de Marian Keyes e chamá-lo de sua Pulsante Virilidade.
Mas ele, felizmente, não me apresentou à sua Pulsante Virilidade pelo nome.
Ele tornou a me beijar. E as coisas se tornaram muito mais sérias. Aquele beijo sem dúvida colocou um ponto final em qualquer travessura leve.
Olhei-o e seus olhos estavam escuros, quase negros, de desejo.
- Minha querida – ele sussurrou. – Há muito tempo que não vou para cama com ninguém.
É mesmo? , pensei surpreendida. Eu pensaria que, para alguém tão sedutor e bonito feito ele, todos os dias de sua vida seriam um verdadeiro festival de sexo. Mas, novamente, ele parecia mesmo ser muito exigente. Mais de uma vez eu testemunhara sua luta para afastar mulheres lindas.
E ele me escolhera, pensei, com o coração derretendo. Ele, que podia praticamente ter qualquer uma, me escolhera. Tinha que haver alguma coisa errada. A qualquer momento, ele se ofereceria para me mostrar sua coleção de facas, ou puxaria uma serra e me reduziria em pedacinhos.
- Está bem – sussurrei-lhe em resposta – Há tempos que eu também não transava com ninguém.
- Ah – ele disse.

Agora, a essa altura, temo que eu vá me tornar um pouquinho mais vaga.
Lamento desapontar vocês, mas não vou dar-lhes quaisquer detalhadas descrições técnicas das nossas transas. (sim, espero que tenham notado o plural ‘transas’.)
Claro que eu poderia dar-lhes uma descrição que pareceria mais um livro escolar pertencente a um estudante do primeiro ano de anatomia, ou ainda fazer a coisa toda soar como uma carta para a página epistolar de uma revista pornográfica, cheia de arquejos, costas recurvadas e ginástica exótica.
Mas isso realmente não faria justiça à beleza da coisa (bem, todas três coisas, na verdade) e como me senti feliz. Poderíamos apenas que momentos maravilhosos foram vividos por todos.
Bem, por todos, ou seja, por nós dois.
Não tive queixas.
Ele não teve queixas.
Eu ficaria constrangida demais de contar que ele me beijou em toda parte, e quero dizer: em toda parte mesmo. E que, quando não fazia isso, cobria-me com deliciosas e trêmulas mordidinhas.
E se vocês acham que eu vou contar a vocês como ele sussurrava desesperado coisas para mim, enquanto estava em cima do meu corpo, coisas maravilhosas, que eu sou linda, que a minha pele tem um gosto delicioso e como ele estava excitado, lamento, mas estão muito enganados.
Vocês terão que usar suas próprias imaginações para visualizar o momento em que passei minhas pernas em torno das costas dele, afim de puxá-lo mais profundamente para dentro de mim e pensei que morreria se ele parasse, e que morreria se não parasse.
E vocês realmente não precisam que lhes conte que, quando ele, hã, quando tudo acabou, que ambos respirávamos forte, arquejando, e estávamos escorregadios de suor, que ele olhou para mim, sorriu, deu uma pequena risada e disse, com admiração: “Meu Deus, você é uma mulher e tanto!”
Sexo com ele foi diferente, muito diferente da maneira como eu me lembrava (sim, eu lembrava) que era. Quando eu superei a sensação inicial de constrangimento, foi realmente maravilhoso.
Nunca acreditei nessa bobagem de que “tamanho não é documento”. Da mesma forma que vocês jamais verão uma pessoa rica dizendo “dinheiro não traz felicidade”, acho que as únicas pessoas que dizem que tamanho não é documento são os homens com pênis muitooooo pequenos.

Mais tarde, quando tudo acabou...
Acabou pela terceira vez, quero dizer, simplesmente ficamos deitados na cama, conversando e rindo.
- Lembra-se do dia da festa da empresa? – ele perguntou.
- Mmmmmmmmmmmm – disse eu, quase incapaz de falar, de tão descontraída e contente.
- Aquilo foi terrível – ele disse.
- Por quê – perguntei.
- Porque eu me sentia tão atraído por você.
- É mesmo? – perguntei surpresa e encantada.
- É, sim – eu não podia nem olhar para você, para não ir em cima.
- Mas você estava todo sério e mal-humorado e apenas conversando com aquelas pessoas todas – lembrei-lhe. – Você me ignorou completamente.
- É verdade – disse ele secamente -, e nem consigo lembrar sobre o que as outras pessoas falavam comigo. Eu não conseguia concentrar-me em nada, a não ser em você. Você estava tão bonitinha com aquele seu vestidinho... tão pequenininha!
- Ah – disse eu, emocionada, aconchegando-me mais para perto dele.

Cerca de duas e meia da madrugada eu disse:
- É melhor eu ir para casa.
- Ah, não – ele disse, apertando-me com força, com seus braços e pernas. – Não vou deixar. Vou manter você acorrentada aqui dentro. Você será minha escrava sexual.
- Ai, ai, ai – disse eu, suspirando -, você diz as coisas mais simpáticas do mundo.
Depois de mais alguns instantes, eu disse, com relutância:
- É realmente melhor eu ir.
- Se você precisa mesmo, então vá – disse ele.
- Você sabe que sim.
- Você ficaria, se não fosse pelo seu pai?
- Ficaria.
Ele se sentou na cama e me observou, enquanto eu me vestia.
Enquanto abotoava meu vestido, olhei para ele e descobri que sorria para mim, mas de um jeito triste.
- O que foi? Alguma coisa errada? – perguntei.
- Você está sempre fugindo de mim – ele disse.
- Você sabe que não é verdade – disse cheia de indignação. – Preciso mesmo ir.
- Desculpe – ele disse, dando-me um sorriso verdadeiro dessa vez.
Ele me beijou demoradamente na porta da frente.
E foi uma verdadeira realização, o fato de eu acabar indo embora.
- Fique – ele murmurou, cheirando meu cabelo.
- Não posso – falei severamente, embora tivesse vontade de subir direto a escada e voltar para a cama com ele.
- Eu ligo mais tarde para saber se você chegou bem. E ligo amanhã também – ele disse.
- Tchau.
Outro beijo.
Mais persuasão.
Corajosa resistência da minha parte.
Relutância em me deixar ir.
Finalmente, segui para o carro.
E garanto a vocês, foi uma puta realização!
Dirigi até em casa, que não ficava muito longe dali.
As ruas estavam escuras e vazias.
Eu me sentia muito feliz.
E nem mesmo me sentia culpada como achei que ficaria.
Bem, não muito culpada.